LEITURA COMPLEMENTAR DA DISCIPLINA DE EPSTIMOLOGIA
FRAGMENTO DO LIVRO: ANTUNES, Celso. Marinheiros e Professores – Crônicas. São Paulo
Ora... isso são detalhes
Não suportando a violência da dor de cabeça e sua persistência por mais de dois dias, preocupada, professora Marianinha procurou o médico:
- Ah, doutor. já não agüento mais. No início tomei apenas um comprimido. Como a dor não passou, ouvi minha avó. Aí então, tomei chá de alho, mel com agrião, água com açúcar, alecrim amassado e melissa aos montes. Mas a dor não diminuiu. Desesperada, fui conversar com uma amiga e ela me garantiu que minha dor era apenas de natureza psicológica. Indicou-me algumas leituras de auto-estima e, de passagem, um tipo de oração aos anjos. Nada. Desesperada tentei gnomos, fadas, pombagiras e tudo mais. Fui a terreiro de candomblé, ouvi pregações metafísicas, dei pulinhos para Santo Antão, cortei o sal, engoli óleo de rícino, passei um dia inteiro apenas comendo laranja com berinjelas e... a dor não passa. Foi então que resolvi procurar pelo senhor.
- Fez muito bem, minha filha. Deveria ter-me procurado antes e, assim, teria se livrado de mezinhas e bobagens. Eu sou, além de médico, um cientista e jamais poderia sugerir a um paciente qualquer remédio que não tivesse o valor inquestionável de uma comprovação. Esqueça suas aventuras pela saúde e tome este
remédio. Verá que em menos de meia hora sua dor de cabeça desaparecerá ou sumirá como afirma a propaganda. São três colheres e trezentos reais. Pode ter certeza...
-Tudo bem, doutor. Aceito o argumento. O preço é alto, mas pela minha cura faço tudo. Diga-me, apenas, de que maneira esse remédio atua em meu corpo, fazendo passar essa dor de cabeça que não termina?
-Ah, minha filha. Isso é querer demais. Sei lá como funciona o remédio. Isso é apenas um detalhe. A verdade que já prescrevi para mais de vinte pacientes e, todos, saíram-se bem com o mesmo. Se fez bem a todo mundo, é claro que vai curar sua dor. Pague e pegue o remédio que eu tenho mais clientes para essa mesma receita...
Existem professores que agem dessa maneira...
Entregam-se ao ensino, dedicam-se intensamente às suas aulas, recomendam lições e estudos dirigidos a seus alunos, aplicam provas sistemáticas. Fazem todo trabalho pedagógico porque acreditam que, assim como aprenderam, assim também seus alunos aprenderão. Infelizmente não se preocupam em descobrir como “acontece” a aprendizagem, de que maneira o cérebro processa e constrói conhecimentos, porque
aprendemos como e para que aprendemos. Ministram com esforço e dedicação o remédio, mas pouco se interessam pela cura.
CAPITULO : 10 PAG: 30 E 31
Ora... isso são detalhes
Não suportando a violência da dor de cabeça e sua persistência por mais de dois dias, preocupada, professora Marianinha procurou o médico:
- Ah, doutor. já não agüento mais. No início tomei apenas um comprimido. Como a dor não passou, ouvi minha avó. Aí então, tomei chá de alho, mel com agrião, água com açúcar, alecrim amassado e melissa aos montes. Mas a dor não diminuiu. Desesperada, fui conversar com uma amiga e ela me garantiu que minha dor era apenas de natureza psicológica. Indicou-me algumas leituras de auto-estima e, de passagem, um tipo de oração aos anjos. Nada. Desesperada tentei gnomos, fadas, pombagiras e tudo mais. Fui a terreiro de candomblé, ouvi pregações metafísicas, dei pulinhos para Santo Antão, cortei o sal, engoli óleo de rícino, passei um dia inteiro apenas comendo laranja com berinjelas e... a dor não passa. Foi então que resolvi procurar pelo senhor.
- Fez muito bem, minha filha. Deveria ter-me procurado antes e, assim, teria se livrado de mezinhas e bobagens. Eu sou, além de médico, um cientista e jamais poderia sugerir a um paciente qualquer remédio que não tivesse o valor inquestionável de uma comprovação. Esqueça suas aventuras pela saúde e tome este
remédio. Verá que em menos de meia hora sua dor de cabeça desaparecerá ou sumirá como afirma a propaganda. São três colheres e trezentos reais. Pode ter certeza...
-Tudo bem, doutor. Aceito o argumento. O preço é alto, mas pela minha cura faço tudo. Diga-me, apenas, de que maneira esse remédio atua em meu corpo, fazendo passar essa dor de cabeça que não termina?
-Ah, minha filha. Isso é querer demais. Sei lá como funciona o remédio. Isso é apenas um detalhe. A verdade que já prescrevi para mais de vinte pacientes e, todos, saíram-se bem com o mesmo. Se fez bem a todo mundo, é claro que vai curar sua dor. Pague e pegue o remédio que eu tenho mais clientes para essa mesma receita...
Existem professores que agem dessa maneira...
Entregam-se ao ensino, dedicam-se intensamente às suas aulas, recomendam lições e estudos dirigidos a seus alunos, aplicam provas sistemáticas. Fazem todo trabalho pedagógico porque acreditam que, assim como aprenderam, assim também seus alunos aprenderão. Infelizmente não se preocupam em descobrir como “acontece” a aprendizagem, de que maneira o cérebro processa e constrói conhecimentos, porque
aprendemos como e para que aprendemos. Ministram com esforço e dedicação o remédio, mas pouco se interessam pela cura.
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